A Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural vai avançar em breve com a implementação do projeto “ConnectNatura – Reforço da Rede de Campos de Alimentação para Aves Necrófagas e Criação de Condições de Conectividade entre Áreas da Rede Natura 2000”.
O projeto da Palombar ConnectNatura é financiado pelo Fundo Ambiental – Ministério do Ambiente e tem como parceiro o ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.
O seu objetivo é criar condições para recuperar e reforçar as populações de aves necrófagas em duas Zonas de Proteção Especial (ZPE) da Rede Natura 2000, classificadas ao abrigo da Diretiva Aves, e que estão localizadas no norte de Portugal, nomeadamente as ZPE ‘Serra do Gerês’ e ‘Montesinho/Nogueira’. Estas duas ZPE estão também inseridas em Sítios de Importância Comunitária (SIC).
As ZPE abrangidas pelo projeto ConnectNatura integram ainda a Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP), apresentando o estatuto de Parque Nacional, no caso da Serra do Gerês, e Parque Natural, no que se refere a Montesinho.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), classificado em maio de 1971, foi a primeira área protegida criada em Portugal, sendo a única com o estatuto de Parque Nacional, reconhecido internacionalmente com idêntica classificação, desde a sua criação, por parte da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), devido à riqueza do seu património natural e cultural, sendo um dos últimos redutos do país onde se encontram ecossistemas no seu estado natural, com reduzida ou nula influência humana, integrados numa paisagem humanizada.
A natureza e a orientação do seu relevo, as variações de altitude e as influências atlântica, mediterrânica e continental traduzem-se na variedade e riqueza do coberto vegetal, nomeadamente, matos, carvalhais e pinhais, bosques de bétula ou vidoeiro, abundante vegetação bordejando as linhas de água, campos de cultivo e pastagens.
As matas do Ramiscal, de Albergaria, do Cabril, todo o vale superior do rio Homem e a própria Serra do Gerês são um tipo de paisagem que dificilmente encontra em Portugal algo de comparável.
O PNPG é território de espécies emblemáticas como o lobo-ibérico (Canis lupus signatus) e a águia-real (Aquila chrysaetos). Micromamíferos diversos, como a toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), diversidade de répteis e anfíbios e uma fauna ictiológica que inclui a truta-do-rio (Salmo truta) e outras espécies de peixes enriquecem também o quadro zoológico.
O Parque Natural de Montesinho (PNM) foi classificado pela primeira vez em agosto de 1979. Este Parque possui uma elevada diversidade biológica, resultante da diversidade de habitats que ocorrem nesta área de montanha. Com mais de 110 espécies de aves nidificantes, é uma área importante para as aves de rapina, como a águia-real (Aquila chrysaetos).
Estão referenciadas para o PNM 70% das espécies de mamíferos terrestres ocorrentes em território nacional, apresentando cerca de 10% destas espécies um estatuto de conservação desfavorável, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.
De destacar ainda a presença de uma das mais importantes populações de lobo-ibérico (Canis lupus signatus) em Portugal. As principais presas silvestres deste grande carnívoro, nomeadamente o veado (Cervus elaphus), o corço (Capreolus capreolus) e o javali (Sus scrofa) são também mamíferos abundantes nesta região.
Este parque possui também uma diversidade de vegetação que pode ser observada em percursos de poucos quilómetros, encontrando-se carvalhais, soutos, sardoais (bosques de azinheira), bosques ripícolas, giestais, urzais, estevais, lameiros, etc.
As medidas a implementar no âmbito deste projeto serão dirigidas a espécies estritamente e parcialmente necrófagas que constam do Anexo I da Diretiva Aves e que possuem um estatuto de conservação desfavorável em Portugal, em particular o abutre-preto (Aegypius monachus), o britango (Neophron percnopterus), o grifo (Gyps fulvus) e a águia-real (Aquila chrysaetos).
Tendo como base a experiência e o trabalho desenvolvido pela Palombar no âmbito do projeto “LIFE Rupis – Conservação do Britango (Neophron percnopterus) e da Águia-perdigueira (Aquila fasciata) no vale do rio Douro”, as ações previstas têm como objetivo melhorar as condições de alimentação e de aceitação social, de forma a reverter as tendências populacionais negativas e a promover o retorno e/ou a fixação dessas aves nesses territórios, os quais constituem áreas de presença histórica.
Para além disto, o projeto contribuirá para reforçar a conectividade entre populações/núcleos populacionais, através de corredores entre áreas da Rede Natura 2000, e para restaurar cadeias tróficas ancestrais.
No âmbito do projeto ConnectNatura, a Palombar vai aumentar a disponibilidade de alimento para as espécies-alvo, através da reativação e/ou construção de campos de alimentação, bem como através da criação de áreas de alimentação no interior de explorações pecuárias. Estas medidas contribuirão para expandir a rede de campos/áreas de alimentação para aves necrófagas no norte de Portugal, favorecendo, desta forma, a existência de um continuum espacial (ou espaços de conectividade) com disponibilidade de alimento para as espécies-alvo, criando, assim, condições para o seu retorno e/ou fixação em novos territórios, em particular nas áreas de implementação do projeto.
É também um dos objetivos específicos do projeto ConnectNatura desenvolver ações de educação e sensibilização em escolas e para o público em geral, de modo a melhorar o seu conhecimento sobre as espécies-alvo, bem como ações direcionadas a grupos de interesse relevantes (caçadores, criadores de gado, agricultores, setor turístico), de forma a torná-los agentes ativos na conservação das espécies.
Adicionalmente, pretende-se valorizar os territórios, criando e disseminando o conhecimento e a experiência adquirida na aplicação de boas práticas ao nível da conservação da natureza.
Outras espécies de aves parcialmente necrófagas, como o milhafre-real (Milvus milvus), que também apresenta um estatuto de conservação desfavorável no nosso país (sobretudo a sua população residente) e o milhafre-preto (Milvus migrans) também serão beneficiadas pelas ações que serão implementadas no terreno.
Em Portugal, as espécies de aves necrófagas, em particular as espécies-alvo deste projeto, apresentam, no geral, um estatuto de conservação delicado, encontrando-se numa situação populacional desfavorável, o que reflete a importância da implementação deste projeto de conservação da Palombar.
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